Ela representa um dos lados da relação
entre religião e política: a incompatibilidade da religião (em particular da
religião cristã) com a política. E esta relação é reciproca: tanto a religião
usa a política, como a política usa a religião. Há uma posição relativa: a
religião contra a política; uma religião que desconfia da política, que se
afasta dela através de uma crítica radical, mas que acaba por propor uma
reforma profunda da política, não mais entendida como poder, mas como serviço;
que é, no fundo, profetas “armados” e os “desarmados”. Há uma outra posição na
relação entre religião e política: a política como religião, a política que se
substitui à religião, em duas possíveis modalidades: uma “religião civil” de
tipo democrático, e uma “religião política” de tipo autoritário ou totalitário.
São essas três possíveis relações e
seus desdobramentos, inclusive para a situação política brasileira, que
analisaremos a seguir.
Começamos com a religião cristã, que
utiliza a política e vice-versa, uma política que utiliza a religião. O exemplo
que vem logo à mente é o Edito de Milão de Constantino (313 d. C), que
legalizou o culto cristão, intuindo a sua utilidade para a sobrevivência do
Império Romano em crise. A partir deste decreto, o cristianismo recebe grandes
vantagens: até então religião perseguida, se torna religião permitida, e
posteriormente religião oficial e única, que persegue todas as outras. Estado soberano
e Igreja. O Estado assumia todos os ônus da evangelização, da “conquista
espiritual”, em troca do controle quase que total da Igreja no Novo Mundo,
incluindo a nomeação dos bispos.
Não é difícil imaginar como esta aliança
fosse forte tanto para a religião como para a política, porque não há nada de
mais poderoso do que falar em nome de Deus: as cruzadas, a inquisição, as
ordens de cavalaria são alguns exemplos de como esta aliança fosse poderosa.
O problema da relação entre religião e
poder, entre Igreja e Estado, (e que vai dar origem também ao problema da
relação entre ética e política) surge porque o cristianismo introduz uma
ruptura na identidade entre religião e política típicas das épocas pré-cristãs.
É
importante dizer que não estamos aqui tratando do valor teológico das religiões,
da sua transcendência ou imanência, da relação entre fé e razão, mas do peso
social ou sociológico da religião. O melhor é não misturar a politica com a religião. Dá de Cesar o que é de Cesar de Deus o que é de Deus...
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