quarta-feira, 24 de junho de 2020

Religião e política: Três possíveis relações


     
Ela representa um dos lados da relação entre religião e política: a incompatibilidade da religião (em particular da religião cristã) com a política. E esta relação é reciproca: tanto a religião usa a política, como a política usa a religião. Há uma posição relativa: a religião contra a política; uma religião que desconfia da política, que se afasta dela através de uma crítica radical, mas que acaba por propor uma reforma profunda da política, não mais entendida como poder, mas como serviço; que é, no fundo, profetas “armados” e os “desarmados”. Há uma outra posição na relação entre religião e política: a política como religião, a política que se substitui à religião, em duas possíveis modalidades: uma “religião civil” de tipo democrático, e uma “religião política” de tipo autoritário ou totalitário.
São essas três possíveis relações e seus desdobramentos, inclusive para a situação política brasileira, que analisaremos a seguir.
      Começamos com a religião cristã, que utiliza a política e vice-versa, uma política que utiliza a religião. O exemplo que vem logo à mente é o Edito de Milão de Constantino (313 d. C), que legalizou o culto cristão, intuindo a sua utilidade para a sobrevivência do Império Romano em crise. A partir deste decreto, o cristianismo recebe grandes vantagens: até então religião perseguida, se torna religião permitida, e posteriormente religião oficial e única, que persegue todas as outras. Estado soberano e Igreja. O Estado assumia todos os ônus da evangelização, da “conquista espiritual”, em troca do controle quase que total da Igreja no Novo Mundo, incluindo a nomeação dos bispos.
       Não é difícil imaginar como esta aliança fosse forte tanto para a religião como para a política, porque não há nada de mais poderoso do que falar em nome de Deus: as cruzadas, a inquisição, as ordens de cavalaria são alguns exemplos de como esta aliança fosse poderosa.
      O problema da relação entre religião e poder, entre Igreja e Estado, (e que vai dar origem também ao problema da relação entre ética e política) surge porque o cristianismo introduz uma ruptura na identidade entre religião e política típicas das épocas pré-cristãs.
      É importante dizer que não estamos aqui tratando do valor teológico das religiões, da sua transcendência ou imanência, da relação entre fé e razão, mas do peso social ou sociológico da religião. O melhor é não misturar a politica com a religião. Dá de Cesar o que é de Cesar de Deus o que é de Deus...